domingo, 19 de dezembro de 2010

ARQUITETOS DO ESPÍRITO


"NO PRINCÍPIO, DEUS CRIOU OS CÉUS E A TERRA"
Gênese 1:1  

A mais antiga das artes aprendidas pelo ser humano foi a arquitetura. Pelo menos, foi a necessidade de construir um abrigo para si e para sua prole que o motivou a pensar nas melhores formas estruturais para essas fábricas, e desse exercício intelectual ele derivou uma das maiores concepções que o engenho humano já produziu.

Sim, pois não há entre as ocupações humanas, com exceção, talvez da medicina, uma só que se compare á arquitetura, em termos de emulação para a totalidade do ser; a ela podem ser associadas todas as emanações da pessoa humana, enquanto obra que se desenvolve no domínio das realidades manifestadas no mundo físico, ou como virtude que se inscreve no domínio mais sutil do espírito. Por isso é que a essa nobre arte sempre se associou uma atividade operativa, que se transformou numa das mais respeitadas ciências do acervo cultural da humanidade, e uma atividade especulativa, que se completa no mais recôndito das estruturas psíquicas do homem, que é onde se desenvolvem todas as etapas do processo que faz dele uma consciência, uma alma e um espírito.

A arte de construir exige intensa atividade nos dois domínios em que o ser humano se formata. No domínio do imenso, que é o domínio da matéria, da técnica, da ciência, da sabedoria epistêmica, organizada, profana, é preciso trabalhar intensamente com a mente e com as mãos para dar forma aos objetos que se cria; e no domínio do ínfimo, que é a região onde a energia criadora se enrola sobre si mesma, criando as grandes realidades do espírito, é preciso um grande trabalho de organização, para que a sinergia promovida por esse processo não resulte no descalabro da mente, ao invés de formatar uma consciência superior.

A arquitetura apresenta, pois essas duas faces. Uma que é profana, operativa, exotérica, e outra, que é sagrada, especulativa, esotérica. A primeira destina-se a construir o mundo da imensitude, das realidades físicas, da vida cósmica manifestada em obras; a segunda ocupa-se em construir o mundo da infinitude que se hospeda no território do espírito, vida cósmica que não se manifesta em formas, mas que existe e é o verdadeiro estofo de onde tudo emana.

Todo homem é arquiteto de si mesmo e do cosmo. Constrói para fora de si o mundo em que vive e para dentro de si o mundo em que quer viver. Nesse sentido é preciso que ele tenha consciência do que faz, e aprenda a fazê-lo cada vez melhor, pois o mundo de dentro e o mundo de fora são reflexos um do outro, e a cada melhoria produzida em um o outro dela se beneficia na mesma proporção. Por isso, diziam os hermetistas, tudo que existe fora é igual ao existe dentro, e o que há em cima é igual ao que há em baixo.

Nesse velho adágio hermético não existe apenas a formulação misteriosa de uma sensibilidade que não se define em construções lógicas, mas sim uma sabedoria muitas vezes milenária, suficientemente testada e produtora de extraordinários resultados práticos para a arte de bem viver e do bem pensar. Ela diz, simplesmente, que um ser humano completo não pode ser construído em uma única direção. Que ele precisa crescer por dentro, no domínio do espírito, e para fora, no território da moral e da virtude. Essas duas direções do ser humano não são mutuamente exclusivas, mas sim completivas em cada ação que se pratica e em cada pensamento que se emite. Por isso é preciso aprender a pensar para agir e agir para um melhor pensar.

Todo mundo sabe que não se constroem edifícios sem um plano, sem um alicerce, sem uma estruturação. O formato das construções, das obras, de tudo que a mão humana produz, já foi elaborado antes na mente de alguém. O plano do real manifestado no mundo físico é uma imagem que se forma primeiramente no mundo das idéias. O cosmo, em sua totalidade, esteve desde sempre na mente divina. Dali emergiu, em suas primeiras manifestações, e continua emergindo, eternamente, em ondas de luz que se formatam em realidades físicas. Da mesma forma, as obras humanas são ondas de luz que fluem, primeiro em forma de pensamentos, e depois se formatam em obras.

Para aprender a formatar realidades físicas há que se aprender as fórmulas de sua construção. Esse magistério constitui o objetivo das ciências e das técnicas, e do seu cultivo depende a melhoria das condições de vida do homem. É preciso estudá-las, é preciso entendê-las, desenvolvê-las e ensiná-las aos nossos descendentes. Esse é o trabalho das nossas escolas, das nossas universidades, das nossas associações culturais, corporativas, comunitárias e filantrópicas.

É um processo de aprendizado em direção ao exterior do ser, que se consuma na construção de uma sociedade justa e perfeita, e na direção do interior do ser, que se consubstancia na aquisição de um espírito livre, fraterno, leve, isento de preconceitos, ódios, temores e vícios que impedem o homem de ser verdadeiramente feliz.

Esse processo é longo e exige máxima paciência, infinita tolerância e nenhum açodamento. É como trabalho de operário em construção, erguendo paredes, de tijolo em tijolo, ou de trabalhador de pedreira, desbastando, manualmente, as pedras que comporão o edifício.

Lucas enviou esta Mensagem